Por que, e de onde vem esse costume de se ficar aguardando um sinal mirabolante?
Antes de entrarmos mais profundamente neste assunto, esclareço que esta reflexão não é direcionada a ninguém em especial. Trata-se de uma opinião pessoal e não tem o objetivo de apontar para esta ou aquela pessoa, esta ou aquela denominação religiosa.
Pois bem. Como já me expressei em análises anteriores, às vezes me pego refletindo sobre a quantidade — e a intensidade — de promessas e práticas devocionais que se espalham por aí. Cito como exemplo: a reza das “1000 Ave-Marias”, as missas de cura e libertação, as noites de bênçãos, as campanhas por causas impossíveis, os apelos a curas milagrosas… e assim por diante.
O que motiva quem promove esses sinais espetaculosos? E o que leva tantas pessoas a crer que precisam esperar por um milagre instantâneo e extraordinário?
Penso que isso nasce da ideia de que é preciso “convencer” Deus, como se fosse necessário impressioná-lo com apresentações grandiosas — promessas excessivas, orações repetitivas, sacrifícios — para então receber algum sinal divino, um milagre explosivo, como um espetáculo de fogos de artifício.
Devemos lembrar que, sim, o Antigo Testamento relata manifestações de Javé com alarde e esplendor. Basta recordarmos a sarça ardente:
“E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo do meio de uma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia.” (Êxodo 3,2)
Contudo, após a vinda de Cristo — manifestação máxima e visível de Deus entre nós — vivemos outros tempos. A Graça se revela de modo sutil e permanente. Cabe a cada um de nós aprender a percebê-la em nosso cotidiano.
Muitos acreditam que as orações precisam esgotar as energias humanas para que Deus as atenda. Pensam que só serão ouvidos se fizerem grandes sacrifícios. Porém, muitas vezes essa visão não vem de maldade ou egoísmo, mas sim da falta de orientação adequada. Nem todos foram catequizados para entender que o que conta para Deus não é a quantidade de palavras, mas a qualidade da intenção do coração.
“Pois desejo misericórdia, não sacrifícios; conhecimento de Deus em vez de holocaustos.” (Oseias 6,6)
Lembremos também as palavras de Jesus:
“Uma geração perversa e adúltera pede um sinal miraculoso, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas. Então Jesus os deixou e retirou-se.” (Mateus 16,4)
Deus continua se manifestando ao nosso redor, como fazia ao guiar o povo no deserto. Mas, hoje, sua presença se revela de modo mais delicado, como se mostrou ao profeta Elias:
“Depois do terremoto houve um fogo, mas o Senhor não estava nele. E depois do fogo houve o murmúrio de uma brisa suave.
Quando Elias ouviu, puxou a capa para cobrir o rosto, saiu e ficou à entrada da caverna.
E uma voz lhe perguntou: ‘O que você está fazendo aqui, Elias?’” (1 Reis 19,12-13)
Os sinais de Deus continuam presentes em nossas vidas como os raios do sol que atravessam uma vidraça. Somos nós que, muitas vezes, não os percebemos porque esperamos trovões, relâmpagos, aparições espetaculares. Enquanto isso, vivemos um milagre todos os dias.
Sim, milagres também podem ocorrer por meio de aparições, como nas experiências registradas em Aparecida, Lourdes, Fátima, Guadalupe… Mas muitos outros se realizam em curas que vêm após um tratamento, em livramentos inexplicáveis, em graças que só reconhecemos depois de algum tempo.
Devemos nos convencer de que o simples fato de acordar é um milagre. Viver e vencer mais um dia é um milagre. Receber um abraço, ou um parabéns pelo aniversário é um milagre. As pequenas coisas do dia a dia que Deus nos concede são, todas elas, milagres reais.
Por isso, não se deixe enganar por “milagreiros” que prometem curas instantâneas, usando a fé dos outros como negócio. Desconfie de quem nunca fala em nome de Deus, mas apenas em nome próprio, com interesses mesquinhos.
Ficamos por aqui.
Espero que tenha gostado da reflexão. Se sim, compartilhe com alguém.
Até a próxima!
