“O Pão da Ceia é pra ser tomado (ingerido) e partilhado. O Pão da Ceia não é para ser objeto de exibição!”
Nossa liturgia eucarística é uma verdadeira e extraordinária obra-prima da literatura religiosa. Apresenta princípios fundamentados na Bíblia e/ou na literatura exegética, além de ser enriquecida de elementos, ritos e símbolos que nos envolvem e nos inebriam o pensamento e a alma.
Contudo, o desenvolvimento ritualístico adquire diferentes nuances, a depender de quem e onde a celebração ocorre.
É nesse contexto que desejo refletir sobre o exposto no título. Como é de praxe ressalto: trata-se de observações independentes, livres de qualquer julgamento sobre outrem.
EXPERIÊNCIA PESSOAL
Dou testemunho, por experiência, que ao receber a Comunhão – o Santíssimo – todo nosso ser, se transborda de emoção. O Corpo de Cristo imediatamente se integra ao nosso corpo, de tal forma que, no exato momento em que O recebemos, sentimos transformada nossa essência.
Pois bem, feito essa colocação apresento a seguinte inquietação:
– Por que, por vezes, logo após comungarmos o “Corpo de Cristo”, o celebrante anuncia a “Benção do Santíssimo”?!
CONTEXTUALIZANDO MELHOR
O fiel comungante acaba de receber o Santíssimo e, neste momento deveria se sentir totalmente saciado e santificado. No entanto, quebrando o silêncio característico do pós-comunhão, ouve-se o anuncio:
– Agora vamos à Benção do Santíssimo (do ostensório).
Rapidamente o pensamento se desvia daquilo que já está em seu interior. O comungante começa a aguardar Aquele que vai passar à sua frente. Passa a importar para ele apenas o Santíssimo exposto no ostensório e, muitas vezes, o próprio objeto é confundido com o que ele contém.
Assim, a Comunhão que aquele esplendoroso objeto, cor de ouro porta, acaba despercebida. A assembleia mira o “que ostenta”. É comum vermos pessoas tentando tocá-lo – nem que seja com a ponta dos dedos – para receber uma graça.
À LUZ DA PALAVRA
· A hemorroíssa (a mulher que sofria de fluxos menstruais graves), não se curou porque tocou nas vestes de Jesus, mas sim pela fé que nutria em Jesus. (cf Mc 5, 25-34)
· A Arca da Aliança era um sinal visível que Deus estava protegendo seu povo o tempo todo. Mas, não era o invólucro o mais importante, mas sim o conteúdo, as Tábuas da Lei.
Colocou também as tábuas da aliança na arca, fixou nela as varas, e pôs sobre ela a tampa. Em seguida, trouxe a arca para dentro do tabernáculo e pendurou o véu protetor, cobrindo a arca da aliança, como o Senhor tinha ordenado. (cf Êxodo 40:20-21).
A BÊNÇÃO COM O OSTENSÓRIO
O Sacerdote – com o ostensório na mão – percorre a igreja. Enquanto isso, muitos fiéis, sem dar conta de que acabaram de receber o próprio Cristo, acompanham sua passagem com olhos arregalados, como que petrificados, boquiabertos.
Aquele que está dentro de nós, que reside em nosso peito, é esquecido. Só o que vale – parece – é aquele que passa. Ao final, sem explicações (guardadas raras exceções), a assembleia é despedida. Poucos compreendem o sentido daquela “Benção do Santíssimo”. E nem se dão conta de que já esqueceram Aquele que comungou.
EU CREIO!
Creio plenamente que Cristo, ao instituir a Comunhão na “Última Ceia”, também nos concedeu a Graça de compreender o mistério da transubstanciação. Por isso creio que Ele está presente na hóstia consagrada que comungamos, e também no Santíssimo que nos abençoa.
Entretanto, é imprescindível que se ensine ao povo que, ao comungar, cada fiel já recebeu o Santíssimo. Basta colocar a mão sobre o peito e agradecer pela condição de “ser digno de recebê-Lo”!
Ah – e que não é necessário tocar no ostensório (por mais reluzente que ele seja), para receber a benção!
REFLEXÃO FINAL
Desprovido de qualquer julgamento, pergunto: entre todos que se i
nebriam com a passagem do ostensório, há alguém que se recorde de que o que está ali é a mesma substância recebida na comunhão?
Lembre-se: o ostensório mais importante é o próprio corpo humano!
Agradeço pela leitura! Se desejar compartilhar sua opinião — mesmo que discordante — será muito bem-vinda. O diálogo nos enriquece na fé.
Que tal partilhar esta reflexão com alguém que ela possa ajudar?
Até o próximo encontro!