VOCÊ TAMBÉM CRÊ QUE SÓ 144 MIL SERÃO SALVOS?

Sou adepto do respeito a qualquer denominação religiosa, qualquer opinião e entendimento, desde que tenham lógica, possuam algum princípio, alguma fundamentação pertinente.

É com esse espírito que já recebi muitas pessoas — entre elas, as Testemunhas de Jeová, assim como converso com membros de outras denominações, do espiritismo e por aí afora.

Quando batem à minha porta os Testemunhas de Jeová — prática que eles cultivam mais do que qualquer outra denominação —, eu os atendo sempre que tenho disponibilidade.

Certa vez, numa manhã de domingo, chegou um casal. Tocaram a campainha. Atendi, e logo o homem me perguntou se podia conversar comigo sobre algumas coisas. Percebi de imediato aquele tom de “posso te ensinar algumas coisas da Bíblia?”, principalmente porque trazia uma nas mãos.

Respondi que sim. Afinal, quem sabe eu pudesse aprender algo, pensei.

Durante sua explicação — com a esposa calada ao lado — uma das coisas que ele frisou foi que apenas 144 mil pessoas seriam aquelas que dariam entrada no Reino dos Céus, no paraíso.

Como sou amante da literatura bíblica, logo perguntei:

— Mas só 144 mil vão ser salvos? Serão os únicos a entrar no Reino de Deus?

Ele reafirmou:

— Sim, são apenas 144 mil os escolhidos.

Foi então que fiz outro questionamento:

— Se são apenas 144 mil, você e sua esposa estarão entre esses?

Ele ponderou:

— Bom, não sei… Para entrar nesse número tem que ser uma pessoa boa, não pecar, tem que ser temente a Deus, pra ser escolhida.

E eu continuei:

— Mas se você mesmo não tem certeza de que estará entre os escolhidos, qual é o sentido desse sacrifício de sair batendo de porta em porta? Que razão tem isso? Que certeza você transmite, se nem acredita que poderá ser salvo, ser um dos cordeiros que entrarão no aprisco do Senhor?

Ele ficou pensativo, sem saber como continuar a conversa. A mulher, então, começou a cutucá-lo, insinuando que precisavam ir. Ele retomou a palavra e apontou para a Bíblia, dizendo:

— A passagem que fala dos 144 mil está no livro do Apocalipse.

Então aproveitei para continuar:

— Você já parou para pensar que esses 144 mil citados no Apocalipse podem ser um número simbólico? Um número que se refere às 12 tribos de Israel? Se dividir 144 mil por 12, teremos exatamente 12 mil. Um número que simboliza que da “Terra de Israel” serão contados 144 mil?

“E ouvi o número dos selados, e eram cento e quarenta e quatro mil selados, de todas as tribos dos filhos de Israel.

Da tribo de Judá, doze mil selados; da tribo de Rúben, doze mil selados; da tribo de Gade, doze mil selados;

Da tribo de Aser, doze mil selados; da tribo de Naftali, doze mil selados; da tribo de Manassés, doze mil selados;

Da tribo de Simeão, doze mil selados; da tribo de Levi, doze mil selados; da tribo de Issacar, doze mil selados;

Da tribo de Zebulom, doze mil selados; da tribo de José, doze mil selados; da tribo de Benjamim, doze mil selados.”

(Apocalipse 7,4-8)

Após minhas colocações, ele e a esposa passaram a mais ouvir do que falar. Completei:

— Naturalmente, as interpretações mais acertadas sobre esses textos do Apocalipse cabem aos exegetas. No entanto, nada nos impede de buscarmos algum entendimento sobre o mesmo, não é?

Uma Junção do Antigo com o Novo Testamento

Enquanto no Antigo Testamento há, em muitas situações, referências às 12 tribos, Jesus constitui 12 apóstolos — que remontam a 12 comunidades cristãs. (cf. Marcos 3,13-16)

Também na Boa Nova de Jesus há a referência ao número dose. Mais uma vez, um número simbólico. Uma metáfora.

Com a junção do Antigo e Novo Testamento Jesus nos transmite a certeza de que os salvos serão tanto os do Antigo Testamento (AT) quanto os do Novo Testamento (NT) — os da antiga aliança e os da nova.

Não podemos esquecer que o Apocalipse é repleto de códigos e simbolismos. Isso foi proposital, para que apenas os cristãos entendessem os sinais de salvação, enquanto os pagãos — contrários ao cristianismo — não tivessem acesso ao significado dos textos sagrados.

Quanto àquele casal, após aprofundarmos um pouco mais na conversa, a esposa começou a insistir:

— Vamos embora, nosso tempo já acabou.

E se despediram.

Tive então a nítida impressão de que sequer haviam lido além da frase “144 mil serão os escolhidos”. Ou, se leram, não se preocuparam com qualquer interpretação ou contextualização.

Concluindo:

É claro que devemos respeitar as pessoas, quaisquer que sejam seus modos de ver as coisas.

Mas sempre podemos — e devemos — argumentar sobre determinadas interpretações, principalmente aquelas que são muito ingênuas ou até mesmo absurdas.

Comente sobre esta reflexão. Emita sua opinião.

Terei prazer em lê-la e respondê-la, se for o caso.

Até a próxima.

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Foto de Elias Muratori

Elias Muratori

Como professor, jornalista, palestrante e escritor Elias Muratori possui vasto material, produzido ao longo de muitos anos e grande parte dessa produção, compilada em 04 livros que publicou.

Além disso Elias mantém atualizadas suas páginas, nas mídias sociais, com diversificada produção cultural, pois é membro da Academia Muriaeense de Letras - AMLE.

Conteúdo básico: crônicas, contos, poemas, micro contos... em textos e vídeos que descrevem sua forma de escrever/seus exercícios literários - a exemplo de ESCREVER SEM USO DE VOGAIS em diversas de suas peças, o que muito contribui para o despertar de alunos, professores e orientadores, para a LITERATURA...

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Elias Muratori

Como professor, jornalista, palestrante e escritor Elias Muratori possui vasto material, produzido ao longo de muitos anos e grande parte dessa produção, compilada em 04 livros que publicou.

Além disso Elias mantém atualizadas suas páginas, nas mídias sociais, com diversificada produção cultural, pois é membro da Academia Muriaeense de Letras - AMLE.

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